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Dizer NÃO é uma das maiores dificuldades que tenho nessa vida. Aliás, acho que esse drama não é só meu – vejo muita gente sentir o mesmo. Quantas vezes você cedeu sem querer ceder? Quantas vezes passou do seu próprio limite? Quantas vezes assumiu mais do que poderia segurar?
Flexibilidade é um ponto importantíssimo em qualquer personalidade. Não somos, afinal, uma ilha. Nos relacionamos, somos requisitadas e é preciso, sim, ter uma boa dose de resiliência. Mas tem gente, como eu e talvez como você, que para alguns aspectos não consegue dar uma resposta negativa.
E os motivos são vários: medo da rejeição (que gera o desejo de agradar a qualquer custo), dificuldade de se impor e até mesmo a nossa cultura brasileira. Explico: dia desses li um texto muito bom (desculpe, não me lembro qual e onde, hahahaha) sobre a sinceridade dos europeus.
A história era mais ou menos assim: uma brasileira que mora na Espanha (?) vai a um bar para encontrar uma amiga e acaba conhecendo uma pessoa nova. Ela e essa pessoa se estranham em várias opiniões, mas concordam em discordar. A amiga em comum vai embora e as duas se pegam indo na mesma direção para casa. Quando se despendem, a brasileira sugere que troquem números de telefone já que eram praticamente vizinhas. E a resposta, minha cara, foi mais ou menos essa:
“NÃO, acho que tô de boa”.
Agora se pergunte: doeria no seu coração ouvir isso? No meu doeria, mesmo que a relação entre mim e a tal pessoa tivesse sido efêmera. Já pensaria: “eita, o que tem de errado comigo?”. Veja só que curioso – o NÃO dos outros dói muito em quem costuma dizer muito SIM para o mundo.
É todo um sistema de atitudes, muito embasado, como disse antes, no nosso estilo de sempre dar um jeitinho pra tudo ou de querer ser carismática. Claro que existem exceções, mas vejo que o SIM é coisa nossa, muito embora em vários casos o melhor a se fazer seria dizer NÃO.
E aí é que pontuo: até quando vamos repetir esse padrão? Não seria melhor que fôssemos mais sinceras com as nossas próprias necessidades, ainda que mantendo o altruísmo? Será que o NÃO, quando bem colocado, pode ser capaz de mudar as relações para melhor?
Eu acredito que pode. E tem que começar pela gente, as rainhas do SIM. Uma vez uma psicóloga que me atendia me disse algo importante:
“Uma pessoa começa te jogando uma bolinha de gude. Você pega ela no ar. Depois, aumenta para uma bola de tênis. Você aceita. Quando vê, ela está atirando sobre você uma bola de boliche. E aí, como fica?”
É claro que tem hora e motivo para dizer NÃO. E é difícil começar quando a sua vida é baseada em aceitar todos os tamanhos de bola – ou não entender quando quem recebe a negativa é você. Sinto que a maior ajuda de todas começa pelo autoconhecimento, que envolve seus valores e também seus limites. Eu e você não somos perfeitas. E aceitar essa imperfeição faz parte do processo.
Afinal, se toda vez que você se ferir com um SIM, estará em negação consigo mesma. Em nome de que ou de quem isso é feito? Procure colocar esses aspectos na sua balança interior. Para mim ainda não é fácil, mas sigo tentando. Inclusive, o exercício de receber um NÃO sem muita explicação (e precisa mesmo de explicação para certas coisas?) tem feito parte da jogada também.
Depois me conta como foi para você?
Leia os dois posts da tag Aprendizado da Semana aqui.
Também sugiro esse texto maravilhoso que representa uma nova linha de pensamento para mim em cada palavra. Vale o clique!
20 comentários
O texto é esse aqui, também adorei: https://luizasahd.blogosfera.uol.com.br/2017/07/19/viva-a-grosseria-europeia/
Putz, entrei aqui e li esse texto logo após dizer sim para uma coisa que não quero fazer! Kkkkkk. Pra mim o que mais pesa é essa questão de “agradar a todos”. Mas existe um limbo entre agradar e ser grosseiro, ou parecer que a pessoa não é importante pra vc, que eu ainda não aprendi a separar.
Adorei o texto e coincidentemente li o texto, que acho que você cita sobre a grosseria (ou sinceridade) Europeia. Segue aqui o link. Muito interessante.
https://luizasahd.blogosfera.uol.com.br/2017/07/19/viva-a-grosseria-europeia/
Esse texto veio em boa hora. Sou dessas que não sabe dizer não por medo de ser rejeitada, até chegar num extremo quando me toco que devia ter dito não há muito tempo atrás. Porque tem pessoas que voce oferece a mão elas querem o braço e quando voce vê já cedeu tudo. Acho que é um costume do Brasil sim.
Morei nos states por um tempo e fui em uma festa lá. Além do anfitrião pedir pra cada um levar alguma coisa, quando chegou 11 da noite ele falou “tá na hora de cada um ligar pros seus pais e ir pra casa” porque a festa tinha acabado. E foi normal, ninguém ficou chateado nem nada.
Aqui a gente não tem hora pra acabar, mesmo cansado finge que não está e nunca imaginaríamos pedir pra galera ir embora mesmo que já esteja na hora né.
Pra mim também é muito difícil dizer não, acabo invento alguma desculpa e fico muito desconfortável com isso, preciso praticar mais o não!
É por isso que eu brinco dizendo que nasci no continente errado hahah
Eu sou tipo a espanhola lá, eu também diria não.
Sempre fui meio consciente assim, nunca fui muito de abrir mão de certas coisas pra agradar os outros, deixar de fazer alguma coisa que gosto, fazer algo que não gosto porque outra pessoa gostaria e algo do tipo, sempre soube a hora de parar e dizer não, mesmo que eu fosse parecer grossa aos olhos das outras pessoas.
Tento ser o mais educada possível, usando as palavras, explicando o motivo. Nem sempre dá certo e as pessoas te olham torto, mas não ligo. É muito bom dizer não quando você realmente deve 🙂
Nossa, Lola, me identifiquei com você, pois sou assim também e, mesmo sendo educada, me olham torto quando digo não. Então, simplesmente digo para mim mesma “paciência” se o outro não ficou bem. Aprendi que é problema dele ter se chateado, porque eu fui educada ao dizer “não”. Parece que só fica tudo bem se a gente disser sim sempre. Outro dia tinha uma festa pra ir e perguntei à anfitriã se eu poderia ir mais cedo para não pegar trânsito, e ela educadamente disse que seria melhor eu não ir, pois ela ainda tinha muita coisa pra preparar e buscar aqui e ali, então eu simplesmente aceitei de boa e fui mais tarde no horário combinado. Acho que teria gente que morreria e nem iria depois à festa… Me senti feliz e contente comigo mesma por ter aceitado de boa esse não. Isso é amadurecimento também, sinto que encontrei o caminho.
É por isso que eu brinco dizendo que nasci no continente errado hahah
Eu sou tipo a alemã lá, eu também diria não.
Sempre fui meio consciente assim, nunca fui muito de abrir mão de certas coisas pra agradar os outros, deixar de fazer alguma coisa que gosto, fazer algo que não gosto porque outra pessoa gostaria e algo do tipo, sempre soube a hora de parar e dizer não, mesmo que eu fosse parecer grossa aos olhos das outras pessoas.
Tento ser o mais educada possível, usando as palavras, explicando o motivo. Nem sempre dá certo e as pessoas te olham torto, mas não ligo. É muito bom dizer não quando você realmente deve 🙂
Li o link que postaram nos comentários e achei a brasileira um pouquinho forçada. Não é como se as duas tivessem conversado o encontro todo e quisessem continuar depois. Ela mesma comenta que no metrô, na volta, já se irritou com um comentário. Já me pediram meu número e eu mandei um, “putz não uso whatsapp” (na época, não usava mesmo, mas continuaria a usar a mesma desculpa).
Acho válido sim aprender a dizer não, mas há um linha tênue entre sinceridade e assertividade (como comentaram). Não é porque você vai falar não que precisa ser grossa. Quando eu era mais nova, me orgulhava de ser a sincerona, só falo a verdade — mas eu era grossa mesmo. Hoje acho que o mundo precisa mais de empatia.
Também concordo com você, Andreia! Ela afirma que passou toda a noite discordando da pessoa, apenas pediu o número pois deve ter tido aquele tipo de pensamento que é triste estar sozinho (que acho que é uma mania dos brasileiros, terem pena pq uma pessoa não tem cia).
Thaís, muito legal seu texto! Eu sempre digo quando não quero fazer algo, e tenho fama de chata! As pessoas aqui simplesmente não entendem, e até se ofendem por um não, isso que é o mais complicado. Como você disse, Andreia, precisamos mesmo de empatia, tanto de quem vai dizer como quem vai ouvir o não.
Também tenho uma enorme dificuldade de dizer não. Há situações em que a gente simplesmente não tem opção, e acaba assumindo um encargo maior do que a gente dá conta. Sei que isso não me faz bem. Tenho que aprender sobre os meus próprios limites e saber repeitá-los. Se eu não me respeitar, quem vai?
Mulher
que texto maravilhosooooooo
mexeu comigo
beijosss
Esse texto foi pra mim hoje! Obrigada <3
Eu aprendi a dizer não. Foi libertador. Mas gosto de dizer sim pra tudo que me faz feliz.
Acho que dizer NÃO vem com a prática e requer anos de experiência, viu… rs Quando mais nova não conseguia negar nada a ninguém por pena de desapontar a pessoa, então já fiz coisas que odiava fazer, já ajudei gente que não merecia e já fiquei com dois meninos mais feios e malas do universo porque fiquei com pena. hahaha
Hoje ainda não sei dizer não, mas aprendi a dar as famosas desculpinhas e sair pela tangente. =/
AMEI!!
Minha mae sempre diz… atrás de um folgado tem sempre um sufocado…. antes de dizer SIM, paro e penso se vou ser o sufocado na situação.. se for.. vem um NÂO automático.. tentem, pois funciona pra mim. beijos meninas.. amo o blog.
Assim, pior do que não saber dizer “não”, é não entender o significado do “não”…consigo tranquilamente dizer “não”, mas as pessoas, em geral, não conseguem entender a negativa simples e pura…
Pra mim, uma das palavras mais difíceis da vida, dizer não. E como consequência, acabo sofrendo demais. Adorei o seu texto!
Putzz… esse texto caiu como uma luva pra mim…
Eu estava fazendo muitas coisas que não queria fazer, por medo de chatear os outros. Não por querer agradar.
Por exemplo: largar minhas coisas, meu trabalho, minhas prioridades pra ser Uber de graça pra minha sogra, apenas porque ela tem preguiça de dirigir no centro da cidade. Ah, ela não ajuda na gasolina.
Minha sogra abusa disso, e quando eu disse não UMA VEZ, inverteu todo o jogo e falou mal de mim pro meu marido. Ele veio soltando os cachorros em cima de mim, e expliquei o motivo de eu ter dito não. Ele ficou sem graça e me pediu desculpas.
Outra dia ela chegou de viagem exatamente na hora que eu tava indo pra academia… ela sabia. Se fez de sonsa e me ligou pra buscar ela. Eu disse ‘não, não posso. me libero somente 8h30’. ela respondeu ‘vou de taxi então’.
Percebi que dizer NÃO me fez TÃO BEM. Que to começando a aderir… NÃO quero ir lá, NÃO quero fazer isso.. Me senti livre por dizer não.
E me fez perceber que o NÃO, as vezes nem chateia outra pessoa.. mas me chateia por ter que fazer algo que não quero.
Obrigada por esse texto. Simplesmente incrível!